quinta-feira, 25 de abril de 2013

Mais um

Mais um dia como outros, como tantos outros. Mais um, um dia, e posso contar mais um na soma de meus anos. Tempo que tive, que já gastei, bem ou mal, que vivi, preparação para o que tenho à minha frente. É óbvio, mas dias como este nos fazem fazer memória, voltar ao começo, celebrar, como se hoje fosse o primeiro de todos os dias já passados. E já é passado, já aqui, nas minhas mãos estreito o tempo que não posso guardar, é passado, sempre, permanente.

Hoje é dia de olhar o tempo, à minha frente, presente, passado, todos num mesmo momento, como se já não houvesse tempo, transição, passagem e tudo fosse estável. Não é. Este dia me recorda que passo, marca o compasso de meus passos, de minha passagem por aqui, é passagem. Mais um, um ano que somo aos meus idos, aviso da morte que chega sem avisar. Passa o tempo, chega o final e lá, o que terei feito? Aos erros passados somarei quantos? As virtudes, quantas terei? Conto apenas anos, acumulando memórias mortas, ou vivo sem ater-me a um número que me recorda finito, curto, breve sopro de vento que logo se esquece? Sopro, sou eu aqui, e deixo minhas marcas na areia do tempo até que outro vento me desfaça e me retire daqui, levando-me a outro lugar, outro tempo, onde já não se pode contar.

sexta-feira, 5 de abril de 2013

O que pude ver

Deixastes-vos erguer na cruz
E o que queríeis que eu visse?
Mortificáveis meus sentidos
Com vosso silêncio
Nada eu via de cativante
E não vos fazíeis ouvir
Falastes pouco, apenas faça-se

Vosso silêncio, minha morte
Morre a esperança frágil
De ver-vos vitorioso
De ver-vos vencer meus males
Livrando-me de minha dor
Vivo veramente agora
Vendo-vos morrer assim

Mostrais-me vosso coração
Palavra que não pude ouvir
E beleza que não pude ver
Mostrais-me o mal que me tornei
Deixando-vos ferir de morte
Morre o Cristo por minhas mãos
Eis o que pude ver

Isto queríeis que eu visse
Cúmulo de minha maldade
Erguido naquela cruz o fruto
De meu delito, ora convertido
Em causa de salvação
Fazeis-me ver através dos véus
Hoje rasgados de meu pecado

Fazeis-me ver na morte a vida
Que perdi por minha culpa
Fazeis-me ver a morte que vos fiz
Padecer por minha culpa
E aí deixais a vida ao meu alcance
Desmerecedor que sou de tal favor
Amor que pôde superar minha vileza

terça-feira, 2 de abril de 2013

Falta

O amor é minha insuficiência, vazio sempre crescente de necessidades que não sei saciar. Amo, talvez, sem poder mais, faço muito, faço pouco sempre, há sempre algo que resta por fazer. Paro, medo de não poder, medo de não saber vencer limites tão claros, tão grandes, fraqueza nunca ausente e sempre mais forte que a força que julgo ter. Falta-me amor, não faltam-me forças, falta-me ânimo, vida que esvai-se no desejo de dar o que falta, falta tão repetida, falso alento que encontro em parar, imerso em lamentos que antecipo do fracasso esperado, tão esperado, jamais desejado, mas tão esperado quanto um íntimo amigo, inimigo que vive comigo e em paz. Traio a mim mesmo e morro sem saber amar como quero, morro sem amor, sem o amor que quero dar, morro dando o pouco bem querer que tenho, o coração meu que dei a Deus, adeus aos meus sonhos, desejos muitos que se fizeram amor que me retira o torpor do lamento, da frustração e do medo, desejo que tenho de sempre morrer para sempre viver, para para sempre viver. Meu lamento é não poder dar o quanto quero, a falta, o que sempre falta, a falta que faz o que não tenho e não dou, falta sempre repetida, desejo sempre frustrado, amor que falta, minha insuficiência.