domingo, 29 de julho de 2012

Motivos

Este é mais um texto sem motivo nobre. Motiva-me a tardança, o silêncio que resolvi quebrar de improviso forçando passagem entre tantas hesitações involuntárias. Obrigo-me ao desconforto das artificialidades e da potencial superficialidade de palavras escritas sem motivo [aparente ou sensível]. Sinto-me assim, traído por motivos rasos e pouco nobres que descobrem razões mais profundas somente depois da decepção e do açoite cruel da vaidade e da fraqueza que prevaleceu. Quis sair de mim e tornar público mais um pouco de mim mesmo sem saber como, sem ter o que dizer.

Eu, no entanto, duvido que seja de fato sem motivo o que escrevo; escrevo, talvez, para descobrir motivos fazendo o caminho inverso, derramando o que guardo em meu peito até que, vazio, eu possa ver o que no fundo estava oculto e coberto por tudo o que quero deixar por aqui. Ouso duvidar de mim, invento a dúvida mas não a sinto, meu pensamento é forja onde faço contradições de metal fundido, minhas ferramentas preferidas.

Escrever é sempre oportuno, sobretudo quando faltam motivos, atrativos, pedidos ou obrigações. Assim escrevo a partir do vazio e sobre o vazio, hoje é meu primeiro dia, ressurreição. Tudo o que tenho são passados nas mãos, com eles me forjo e me invento, me faço e refaço, desfaço-me dos excessos deixando-os aqui com um pouco mais além das sobras, dobras que antes não via, o que havia debaixo de tudo o que escondia o motivo que agora deixo também aqui.

Meu motivo? A insegurança, a incerteza, a dúvida, a contradição, a provocação, o pensamento, a inércia vencida, o movimento forçado, um leitor que porventura seja alcançado e desafiado a sair do comum, do silêncio inerte e infértil da espera de uma inspiração [que pode não vir].