sexta-feira, 25 de novembro de 2011

Distância

"Todos os conhecidos de Jesus ficaram à distância." (Lc 23 ,49)

Este versículo prendeu meu coração hoje. Senti um peso enorme caindo sobre mim e fazendo-me pesar meu coração, e fui achado muito leve (cf. Dn 5, 27). A liturgia das sextas-feiras sempre me faz pensar em minha vocação, na resposta que a cada dia devo dar ao Senhor, nas respostas que tenho dado a Ele. Hoje senti-me entre aqueles "conhecidos de Jesus". Não eram aqueles a quem Jesus diria "não vos conheço" (cf. Mt 25, 12). Ao contrário, eram conhecidos de Jesus, mas ficaram à distância, negaram-no abertamente. Eu também não quis aproximar-me Dele, injustamente condenado e injustamente abandonado pelos seus, abandonado por mim.

Pesou sobre mim a palavra de São Cipriano: "Resistimos, relutamos e, quais escravos rebeldes, somos levados cheios de tristeza à presença de Deus, saindo daqui constrangidos pela necessidade, não por vontade dócil. E ainda queremos ser honrados com os prêmios celestes a que chegamos de má vontade. Por que então oramos e pedimos que venha o reino dos céus, se o cativeiro terreno nos encanta? Por que, com preces frequentemente repetidas, suplicamos que se apresse o dia do reino, se maior desejo e mais forte vontade são de servir aqui ao demônio do que reinar com Cristo?" (Ofício das Leituras, Sexta-Feira da 34.ª Semana do Tempo Comum)

O que mais devo dizer? Sou pó e ao pó devo voltar. Tudo que faço é pó que poderia ser espalhado por outras mãos. Gosto de ficar à distância quando deveria preferir estar perto de Jesus. Pergunto-me: por que sou tão averso aos sofrimentos desta vida, às coisas que me contrariam, aos sentimentos que perturbam e me tiram a paz? Olho o Cristo e vejo-O feliz em situações semelhantes, absorvido pela paz e pela serenidade de uma liberdade verdadeira. Vi-O assim e quis segui-Lo, mas logo quis ficar à distância, longe de Sua companhia, longe de Seu exemplo. Mas hoje despertou-me Sua voz, Seu grito rompeu minha surdez e o brilho de Sua luz afugentou a minha cegueira (cf. S. Agostinho, Confissões, Livro X, 27).

Vejo-O agora e vejo-me ainda tão longe, mas já não fico à distância, dou passos em Sua direção. Cada vez que escuto Sua voz a chamar-me, cada vez que ouço Sua Palavra dou um passo adiante e me aproximo um pouco mais, encurto um pouco a distância, esperando não ficar à distância quando meus dias terminarem. Não quero ser mais um traidor.

Pai, eu Te dou graças
Porque me amas
Porque me chamas
E não Te cansas
De esperar-me chegar

terça-feira, 15 de novembro de 2011

Artesanato

Queria saber escrever alguma coisa interessante para publicar aqui. Sinto que acabaram-se as palavras e que tudo que digo agora é improviso infértil e inoportuno, esforço estéril da razão para ocupar o espaço que ficou vazio quando se acabaram os temas de oração e meditação. No entanto, pensando no esforço maior que agora devo fazer, penso que seja oportuno passar por esses tempos de criatividade artesanal. Hoje falo por mim mesmo, e sinto que perdi a prática. Por isso digo que este texto de hoje é artesanal, preciso tomar nas mãos aquilo que de mim parecia descartável e tentar transformá-lo em algo que seja de proveito comum, uma arte-reciclagem do que parecia não servir-me mais. Em fazer orações e tecer aqui um Rosário perdi de vista os temas que apenas me agradavam, fixei os olhos naqueles que me propunha o Senhor e deixei-me levar, seguindo o ritmo que Ele me impôs. Por isso senti-me obrigado a escrever um pouco hoje, mesmo sem saber o que dizer, e deixar aqui ao menos uma semente do que restou do que semeei nos textos passados.

Meus motivos são simples, minhas razões são poucas, e nunca posso responder dignamente às exigências que Deus me faz em meu coração. Escrevo o que posso, como posso, usando um pouco do que Ele me deu. De dois talentos não faço quatro, mas um pouco mais de dois creio que faço e deixo aqui para quem quiser. Espero que no tempo que me resta conseguirei devolver ao Senhor meus dois talentos e outros dois que terei lucrado. Queria, por vezes, encontrar palavras novas, dizer novidades e encontrar jeitos diferentes de olhar a vida e de falar de Cristo, mas sempre me vejo repetindo os mesmos jeitos de outros tempos e reencontro sempre o mesmo motivo para minhas repetições. As ordens que ainda escuto ainda devo obedecer, só depois virão pedidos novos, palavras novas, motivos diferentes para escrever. Escrevo assim, fazendo memória das memórias passadas, até que o presente seja também memória e receba um lugar no papel.

Eis o que aprendi enquanto rezávamos o Rosário: preciso deixar sair de mim o que Deus quis colocar aqui dentro, depois o que com isso construí, o que agora digo, e buscar-encontrar primeiro o Reino no que entra e no que sai de mim, assim serei puro, sempre, e não poderei contaminar os outros com as maldades que ainda sobrevivem em meu coração, que assim aos poucos morrerão até que morra também eu, feliz, perdendo-me, enfim, para achar-me no Senhor.

terça-feira, 8 de novembro de 2011

Salve Rainha

Salve, te saudamos, Rainha e Mãe de misericórdia, és nossa vida e esperança pela gloriosa missão de de Deus recebeste. És o tabernáculo do Divino Senhor e Salvador nosso, Jesus Cristo, e por tua resposta de amor ao convite do Altíssimo trouxeste a vida a todo ser e confirmaste a esperança do teu povo, o povo de Deus. Salve, rainha nossa, mãe do Deus Salvador. A ti elevamos nossas súplicas e pedidos de socorro, pedindo teu auxílio para nossa fraqueza, sustento no exílio, sustento em nosso regresso ao paraíso perdido. Choramos enquanto aqui sofremos, mas temos em ti um sempre presente consolo, certeza de que não padecemos em vão se como tu guardamos a fé que recebemos de Cristo. Roga por nós, Mãe Rainha, e socorre-nos em nossas necessidades, alcança para nós a misericórdia de teu Divino Filho e dá-nos, por tua intercessão, a salvação eterna. Dá-nos assim, Senhora linda, contemplar em teu rosto o rosto de teu filho e reconhecê-lo em ti. Assim dispôs o Senhor e convêm que em tudo façamos o que Ele nos diz. Quis Ele vir até nós por meio de ti e agora dispõe que a Ele iremos somente por ti, e tudo isso pedimos, saudando-te, Senhora Nossa, para mais vos obrigar a cuidar de nós, rendendo por nossa prece a ti o nosso coração, renovando em nossa súplica o mandato que o próprio Cristo te deu de cuidar desses mais pequeninos, agora teus filhinhos, pecadores.

Não cessará jamais a nossa oração se diante de Cristo fores tu a nossa voz. Por isso roga por nós, Santa Mãe de Deus e Rainha do Céu, para que sejamos dignos das promessas feitas por Teu Filho e Senhor Nosso, Jesus Cristo, que com o Pai e o Espírito Santo vive e reina para sempre. Amém.

quarta-feira, 2 de novembro de 2011

Coroação de Nossa Senhora

Pai Nosso que estais no Céu, revelai-nos vossa glória e glorificai o Vosso nome pelas graças que nos dais, purificando-nos de nossas intenções egoístas e desejos impuros. Salvai-nos, por Vossa bondade e misericórdia, de todo apego ao que é temporário, de todo desejo de satisfação imediata, de toda impaciência, da intolerância, do egoísmo. Fazei-nos, Senhor, humildes, e sustentai-nos, Senhor, com o pão das lágrimas e a bebida copiosa do pranto (cf. Sl 79, 6). De nossos sofrimentos fazei o nosso pão, dando-nos por alimento a Carne e o Sangue de Vosso Filho que se dignou tomar sobre si as nossas dores e dar-nos a cura para todas as nossas enfermidades. Fazei, Senhor, que pela comunhão do Santíssimo Corpo e do Sacratíssimo Sangue de Vosso diletíssimo Filho, nosso Senhor Jesus Cristo, sempre mais nos assemelhemos a Ele, sobretudo na prática da misericórdia e no serviço da caridade, para que sejamos dignos de receber o prêmio das promessas feitas por Ele àqueles que neste mundo O amarem e testemunharem. Assim seja.

Ave Maria Rainha, Senhora nossa, a ti agora se voltam nossos olhares e preces, nossa gratidão, todo o nosso coração. Quem sobre a terra ou no céu ousaria pedir ao Cristo tão grande dádiva, quem poderia ousar querer de Deus um bem tão grande que somente é superado pela encarnação do Verbo, mas que a prece e a faz possível, pelos méritos que dela recebera? Foste feita rainha de todos os anjos e santos, glorificada pelas virtudes que em ti colocou o Senhor e pelo testemunho dos apóstolos, cuja afeição e devoção agora proclamam, qual coroa reluzente de virtudes, graças e incontáveis frutos, a tua santidade e exímia caridade, infindável bondade e absoluta submissão ao Divino Rei e Senhor nosso, Jesus Cristo. Tens sobre a cabeça a coroa dos apóstolos, primeira geração que te proclamou bem aventurada, feitos teus filhos pelo próprio Rei e tornados também coroa de tuas virtudes, filhos educados por quem foi educado por ti e agora cuidados pelas mesmas mãos, ensinados e aconselhados pela mesma voz que ensinou o menino Jesus a falar. Vestida de Sol, assim adornada por toda a graça do Deus Altíssimo, levada por Deus tu te elevas no céu sobre todas as coisas, envolvida por Sua infinita sabedoria e indizível caridade. Tens sob os pés a criação, passageira e mutável como vemos a lua no céu, e sobre a terra te elevas, Senhora poderosa, intercessora de súplica onipotente, Rainha de todos os santos. Por ti nos veio de Deus toda a graça do Céu, por isso és Rainha, Senhora Nossa, tu que moves o coração de Deus com tua prece e humildade, tu que com Deus és também onipotente, por tua nunca inoperante caridade, tua fé inabalável e inesgotável humildade. Dos santos, és a primeira, primeira redimida, primeira elevada em corpo e alma ao Céu, primeiro fruto da redenção de Cristo. És por isso Rainha, Senhora nossa, mãe de todos que a Cristo louvam louvando em ti as virtudes que Em ti quis Ele formar, que O amam amando a ti, que primeiro O trouxeste no seio e no coração.

Hoje te vemos no Céu, amada Maria, e louvamos aquele que assim te quis exaltar, colocando-nos sob os teus cuidados enquanto ainda somos peregrinos, para que cobertos de cuidados por ti não desfalecêssemos pelo caminho, para que fosses para nós abrigo e alívio nos caminhos no deserto e nos trouxesses o fogo do Espírito que em teu coração queima sem cessar, aquecendo-nos nas noites de nossa jornada. Hoje te vemos, Senhora nossa, e nos aproximamos de tão gloriosa contemplação, ouvindo de Deus a ordem: tira as sandálias dos pés, porque o lugar em que estás é santo (cf. Gn 3, 5). Assim nos aproximamos de ti e assim nos prostramos, contemplando em Ti a graça que Deus quis realizar e ouvindo em teu exemplo a ordem que Ele nos dá: liberta meu povo, anuncia a todos a boa nova da salvação. Vemos em ti a promessa cumprida e queremos vê-la em todos realizada também, levando a outros o calor do fogo que Deus quis fazer arder em nosso coração, quando O encontramos em ti, Maria Santíssima, virgem mãe do Redentor. Por isso roga por nós, Maria, para que a morte nos dê a recompensa que pedimos, em nossa prece e em nossos sacrifícios, em nossas obras, no exemplo que de ti imitamos. Amém.

Glória ao Pai e ao Filho e ao Espírito Santo desde agora e para sempre, ao Deus que é, que era e que vem, pelos séculos. Amém