terça-feira, 2 de novembro de 2010

Perdas

A vida parece perder-se por entre os dedos, como areia que tomamos nas mãos e levamos a outro lugar. A areia cai, esvai-se a vida, a pouco e pouco esvaziando nossas mãos e nosso coração. Perde-se a vida enquanto perde-se tempo, enquanto não nos ocupamos em não deixar frestas entre nossos dedos e proteger a vida do vento, do tropeço, do desequilíbrio. Esvai-se a vida, marcando os lugares onde vivemos, onde morremos, morrendo aos poucos e deixando túmulos em tantos lugares que só nos viram de passagem. Enquanto a areia cai não a podemos tomar de volta, querer parar e deixar que caia num só lugar para recolhê-la de novo, porque o vento sempre sopra, e sempre soprará, a vida para longe de nós.

O que perdemos e o que ainda podemos lucrar? A perda, não a podemos remediar, e não podemos levar nada além da areia em nossas mãos, nada além do tempo que temos e não temos, que já passou e passará. Quisera poder guardar um pouco de mim, um pouco deste pó que possa servir de conselho a quem vier depois de mim. Quero deixar a areia cair bem perto do chão, deixar marcas que possam seguir quem passar por aqui, deixá-la cair em outras mãos, perder minha vida na vida de outros, para que vivam com o pouco de mim que morre a cada dia.

Quero deixar perder-se o tempo, quero deixar soprar o vento, partir a vida, morrer. Quero ver minhas mãos vazias, no fim deste dia, e ver que o tempo, a areia, os medos, anseios e sonhos, planos, desejos, infortúnios e alegrias, tudo isso perdeu-se pra que eu pudesse gozar da companhia de meu Deus.

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