sexta-feira, 30 de abril de 2010

Linguagem

A linguagem é meu limite. É fácil esbarrar nas bordas das palavras, sempre querendo dizer mais do que podem. Quisera ver-me livre desses limites, falar com Jesus sem palavras, sem gestos, sem olhares, livre dessas mediações, dessas caixas que podem conter tão pouco, por onde digo tão pouco, por onde ouço tão pouco.

Traduções, imagens, símbolos, limites que se impõem à tão simples necessidade de comunicação, nunca plenamente satisfeita, mas sempre presa nos mesmos limites, nos símbolos que não podem comunicar o todo. A arte é uma tentativa de romper esses limites, insinuando à razão significados que a transcendem, incitando a imaginação a buscar os significados ocultos nas insinuações.

A arte é algo que Deus deu ao homem para aproximá-Lo de si, para que rompesse seus próprios limites e vivesse com os pés no chão e o coração no Céu. Limites rompidos e obedecidos, paradoxo que define bem a liberdade que Deus oferece. Por isso Deus é tanto mais crível quanto mais é incrível, e nós O conhecemos e cremos assim, cada vez que o que não somos capazes de pensar se nos mostra com tanta facilidade que nossa razão se rende, vencida pelo Deus que a ultrapassa, indo além do que ela pode alcançar de mais simples e de mais elevado.

terça-feira, 20 de abril de 2010

Oração

Senhor Jesus, amado de minha alma, Tu que amas a todos e assistis os que a Ti recorrem, ouvi a oração deste pobre pecador que ousa dirigir-Te estas palavras com lábios impuros, que de Ti se aproxima com as vestes manchadas de sangue. Sei, não sou digno de aproximar-me de Ti, e meus méritos são poucos para que possa receber de Ti qualquer coisa que peça. Igualmente insuficientes seriam minhas súplicas, porque sou fraco e incapaz de orar sem cessar, como exigis que orem os que desejam receber de Ti as Tuas graças. Por isso, mesmo abatido e humilhado por minhas faltas, ouso pedir a intercessão de Tua mãe Santíssima. Sei que, se ela pedir por mim, sua oração será atendida, pelos méritos que em Tua bondade e liberalidade lhe concedeste por Tua encarnação, e também porque ela, uma vez ao Teu lado no paraíso, não pode cessar de rogar por todos. Sei, ela está viva, ao Teu lado, e tudo Te pode pedir. Ela, sim, ora sem cessar por todos os que queres salvar!

Maria Santíssima, mãe de meu Salvador, Jesus Cristo, peço-Te que cuides de mim todos os dias de minha vida, e que rogues a Jesus, Teu filho e Senhor, nosso Deus amado, que me conceda a graça da fidelidade e da perseverança, sem as quais ninguém pode ser santo, como Ele mesmo deseja que sejam os que Ele remiu com Seu preciosíssimo Sangue. Salva-me de minhas fraquezas, doce Mãe de Deus, e conserva-me sempre perto de Teu divino filho, Jesus. Assim seja.

terça-feira, 13 de abril de 2010

Poesia

Pensava escrever como fazer o que quero, libertar-me das algemas do tempo e espaço e vagar por caminhos vagos, abstratos, tocando de longe o que julgava real, concreto, aproximado. Mas de improviso outro olhar tomou de assalto o meu, tão curto, limitado, como forasteiro perdido, fugido, sempre estrangeiro.

Penso agora escrever com mais liberdade que no tempo das fantasias, porque andava perdido e entendia errado o que fazia certo, e, por isso, não sabia fazer o que certo poderia ser, até que um dia nada seria certo e nem o poderia conceber. Escrever para mim agora é estar fora, estando dentro, vagar por todos os lugares, ser de algum modo onimpresente naquilo que me toca ou me tocou, e que ainda me tocará. É como experiência que ainda não chegou, um passado que se increve no que ainda se escreve, e se vive. Escrever é ser livre do tempo e espaço, porém estando neles ainda encerrado, mas não enterrado.

Quero agora trilhar e traçar os mesmos caminhos outrora perdidos, perdedores de almas desavisadas como, por vezes, a minha é, mas agora seguro por um guia que me ditará o ritmo de meus passos. Seguirei, é verdade, sem direção e sentido aparente, mas não há liberdade se já de antemão me prendo ao que eu quero fazer.

quinta-feira, 1 de abril de 2010

Tempo

Senhor, que é o tempo, senão martírio lento, memória do que ele mesmo esconde, enquanto passa, lento e longo e a um só tempo também curto, muito curto?

Mas quando estou contigo, Jesus, parece desaparecer todo tempo, e é ao mesmo tempo curto o tempo que tenho contigo. A Tua eternidade me convida a permanecer, a demorar-me mais no que não pode demorar. É o tempo que se torna eternidade enquanto se esconde atrás de Ti e alimenta a esperança de que ele mesmo não volte. É o tempo que também Te esconde para que eu Te deseje mais enquanto espero, e esperando parece mais longo o tempo que tenho pouco para buscar-te, e te busco enquanto meu tempo acaba, escondendo-se a pouco e pouco até que morra, enfim. E, morrendo eu, estarei eternamente contigo no fim de todo tempo.

Mas é longo também o tempo enquanto espero e não Te tenho, enquanto não acaba o pouco tempo que tenho, que espero que não me seja pouco, para fazer tudo que devo para Tua eternidade gozar.