quinta-feira, 6 de agosto de 2009

Morte

Eu não podia consolar os corações que choravam, meus gestos ficaram restritos a olhares e abraços. Um olhar baixo foi o que escolhi, única expressão que fui capaz de fazer da compaixão que sentia.

A morte, mistério insólito que segue ferindo o amor humano, que sempre nos comove e de algum modo nos paralisa, como numa tentativa incansável de nos fazer valorizar mais nossa própria vida, pelo simples vislumbre de nosso destino comum, escondeu-me as palavras que tão facilmente costumava encontrar, e nada soube dizer ou pensar. Meu silêncio, porém, não era fúnebre, e a dor que oprimia meu coração fazia-me pensar, já livre de todo vestígio de desejo de consolar alguém, e encontrei naquele vazio a satisfação de ter podido provar a verdadeira compaixão, que não consiste em fazer-se suporte para aquele que sofre, mas em partilhar a dor do outro sem pretensões de oferecer alívio. Somos um só corpo, em Cristo, e assim temos uma só cruz.

Em meu coração deixo espaço para lágrimas que não são minhas, para que sejam.