quinta-feira, 23 de julho de 2009

Caminhos

O espírito anda por caminhos que nossos olhos não podem ver, nem nossas palavras descrever, mas, na tentativa de fazer prevalecer a regra que nos manda dar ao outro o que de bom encontramos na vida, vamos distribuindo palavras a todos quantos puderem ouvir.

Os caminhos da alma não são sinuosos, mesmo que temamos que sejam, e isto nos dá uma liberdade que frequentemente ignoramos por causa do medo de que não seja assim como nos dizem, ou como Deus nos diz. Gostamos de falar, de reclamar, e nunca nos faltam queixas contra os conselhos que nos são dados, por causa de nossa teimosa preferência por nossa própria opinião e avaliação da vida. Reivindicamos certezas e garantias para justificar a coragem que devemos ter, nos esquecemos que a verdadeira coragem sabe ousar, e sabe confiar nos que já passaram pelos mesmos caminhos.

Vigora também em nossa alma a lei do menor esforço, desejo contínuo de apenas fruir as delícias de Deus, fazendo dele nossa colônia de férias, e o abandonamos quando as necessidades da vida nos trazem ocasiões de amadurecimento, longe de contentamentos, satisfações e consolações, de Deus ou não.

Volto a dizer, os caminhos da alma não são sinuosos, mas, enquanto insistirmos em querer satisfazer nossos gostos antes de empreendermos a caminhada, ou mesmo durante a caminhada, estaremos inventando atalhos que certamente nos levarão para muito longe do destino original, Deus.

segunda-feira, 6 de julho de 2009

Panos sujos

Estávamos eu e uma de minhas irmãs aguardando que se iniciasse o atendimento de confissões quando fomos informados de que o único padre que estava presente presidiria a missa naquele dia e que por isso não haveria atendimento. Sentamo-nos ao fundo da Igreja, com um certo pesar e um pouco tristes por ver afastar-se no tempo a reconciliação sacramental com o Senhor. Apenas nos sentamos e um homem se aproximou pedindo que rezássemos um Pai Nosso e uma Ave Maria por ele, porque estava prestes a cometer suicídio, para que não o fizesse. Não hesitamos. Levantamo-nos e fomos com ele até diante de uma imagem do Senhor Crucificado que ficava ao fundo da Igreja, e ali ele se colocou de joelhos e rezamos, os três juntos, as orações que ele nos pedira. Rezamos ainda um pouco além do que nos fora pedido e aos poucos sua alma se foi acalmando diante do silêncio do Senhor Morto que o confortava e acalentava. Ao fim da oração ele nos falou um pouco das dificuldades que estava enfrentando em sua casa, para as quais não via solução, e nos pediu que o ajudássemos a comprar comida e disse, repetidas vezes, que não queria dinheiro, mas o alimento de que tanto precisava, e que nós, se preferíssemos, poderíamos acompanhá-lo até o mercado. O Amor do Senhor não nos permitiu desconfiar dele e lhe demos o que tínhamos ali. Ele se foi e nunca mais o vimos.

Depois de nos despedirmos dele, sentamo-nos de novo e rezamos, em silêncio, por alguns instantes. O que o Senhor quis permanecesse em nós depois daquele encontro eu trago em meu coração até hoje e jamais será esquecido. Estávamos ainda marcados pela culpa, não tinhamos nos confessado ainda, quando Cristo nos mandou servi-lo naquele homem. Uma Palavra simples do Senhor penetrou meu coração e, ao mesmo tempo em que me consolava, me oprimia e fazia pesar sobre mim a responsabilidade que assumi quando me consagrei a Ele. Diante daquela Palavra não era preciso dizer mais, e agora também não ouso fazê-lo: "Mesmo com panos sujos, Deus sabe limpar".