segunda-feira, 23 de março de 2009

Verdade

De quantas opiniões podemos extrair uma verdade? É paradoxal, mas parece que a quantidade de testemunhas vale mais do que a veracidade do que afirmam conhecer. De que valem as provas se temos opiniões? O verdadeiro tornou-se relativo, produto do delírio de uma autopiedade sempre crescente. As opiniões são sempre próprias, particulares de grupos ou indivíduos, indiscutíveis, e quando são acusadas de equívoco a acusação é sempre considerada equivocada. De que valem as provas se temos opiniões?

Alguns há que fazem tudo regidos por este princípio unilateral, frágil e infantil. As opiniões "indiscutíveis e sempre verdadeiras" são apenas a superfície desta egolatria que se exalta sobre os frágeis pilares das capacidades individuais. Eles esbanjam os frutos de seus esforços como querem, o quanto querem, num egoísmo que constrange todos os outros egoístas do mundo. Tem lugar aqui uma estranha competição, homens e mulheres ocupados em apiedarem-se de si mesmos, construindo imagens que disfarçam o próprio fracasso, escondendo a fraude que são em cenários de prosperidade e sucesso profissional. Que vença o mais egoísta! Isto gritam os instintos que se colocaram no lugar da liberdade de muitos.

É ser verdadeiro dizer-se cristão e ao mesmo tempo viver assim? "É mais fácil um camelo passar pelo fundo de uma agulha do que um rico entrar no Reino de Deus."(1) Agora pergunto: de que valem as opiniões, se temos fatos?


(1) Mt 19, 24

terça-feira, 10 de março de 2009

Meu nome

Quero que meu nome fale mais sobre mim. De minha família, quisera ser o último, o menor e menos visto, escondido atrás das palavras que meu Amor me permite dizer. Quisera ser sempre pequeno, mesmo nas aparências, nos olhares. Pequeno, assim desejo ser, permanecer oculto no lugar que me foi reservado desde que Deus me concebeu. Ser oculto nem sempre é fácil, é cruz, é sofrimento; não quero, no entanto, esconder-me em mim, quero somente que o que sou seja visto sem enfeites, seja ouvido sem louvores. Estou no mesmo caminho de todos os outros; que mérito tenho se tenho dado passos? Não é a obrigação de todos que caminham? Não quero ser amado e estimado pelo que faço, são bases pouco sólidas. Se me amam, amem-me por aquele que me Amou por primeiro, pelo meu Amor da Cruz.

Peço-te, divino crucificado, faças cair sobre minha cabeça o sangue vertente de Tuas santas chagas; seja eu envolvido por Tua vida que se esconde por detrás dos umbrais da morte. Que esta sublime visão de Teu sacrifício mova o meu coração ao mesmo aniquilamento e me faça querer o mesmo que quiseste para Ti, sofrimento, morte, ressurreição. Ensinaste-me mansidão, silêncio; cultiva em mim, amado Mestre, esta virtude que animou Teus gestos, e faça-me igualmente manso, como cordeiro que se deixa sacrificar. Ensinaste-me humildade, silêncio; cultiva em mim, divino Amante, o desejo de ser pequeno, de esconder-me, de diminuir-me a cada dia, para que Tu apareças em vez mim.
Espero ser atendido, e desejo que o seja tão logo quiseres. Assim seja.

quinta-feira, 5 de março de 2009

Versos

Frases, sílabas, consonâncias
Movimento secreto e descoberto
Ventos, sentimentos passageiros
Sentido que muda a cada olhar
Olhares e pensamentos,
Descrevem meus versos,
Reflexos de uma alma que chora,
Mas canta feliz o destino de suas lágrimas,
Que regam o solo seco
De seu próprio coração.

Em minhas dúvidas sobrevive
A esperança de respostas.
No sono de meus versos não escritos
Permanece a alegria
De esperar nascer o dia
Em que todos cantarão,
A uma mesma melodia,
Louvores ao meu Cristo,
Ao Amado desta alma simples
Que em palavras se perde
Procurando presentes que o agradem
E sem encontrá-los entrega-se assim
Com seus rascunhos nas mãos
E lágrimas de gratidão
Pela misericórdia que a acolhe, enfim,
Inteira, porém incompleta, em construção.