segunda-feira, 19 de maio de 2008

Sem comentários

Acredito que esta tenha sido, durante algum tempo, minha resposta de toda hora, mesmo que às vezes silenciosa. Às vezes, por ignorância, outras por covardia, outras ainda para me dar a oportunidade de ouvir.
Calar pode ser uma virtude, mas pode também se tornar um grande inimigo. Digo isto por experiência própria. A palavra sugere participação, supõe uma certa preocupação com os fatos e circunstâncias de cada dia. É a reação. Porém, o comentário, protagonista destas minhas palavras de hoje, exige percepção, crítica, pensamento. Comentar não é re-descrever, reproduzir, repetir, mas analisar, repensar a realidade. No entanto, comentários não são sempre bem vindos a todos os ouvidos, e às vezes nem mesmo a quem os pronunciou.
Silenciando dou-me a oportunidade de ouvir. É preparação. Diria que esse silêncio é a melhor reação, por que respostas rápidas demais tendem ao erro. Respostas que demoram costumam ensinar mais, a quem responde e a quem é respondido.
Quero fixar a atenção nestes últimos, já que escrevendo aqui torno-me alvo de comentários. O silêncio dos ouvintes (ou leitores, se preferirem) é, por vezes, uma voz estridente que grita que todo o discurso é vão, já que ninguém o escuta. É a primeira tentação de quem fala e escreve, mas aí se apresenta a oportunidade de ser livre no que se faz, especialmente quando se fala de Deus. Não há obrigatoriedade de que seja o semeador quem realizará a colheita. Tudo é vaidade, e esperar o reconhecimento dos homens o é por excelência. O silêncio é a morada do orgulho que não quer correr o risco de ser julgado e condenado pelas palavras que seriam ditas. Por outro lado, quem fala é atacado pela vaidade, que o faz desejar o reconhecimento de quem o escuta. Dois inimigos que não podem ser vencidos pela fuga, mas apenas pela humildade, guarda e guia de quem verdadeiramente ama a Deus sobre todas as coisas.