quinta-feira, 3 de abril de 2008

Espelhos

Muitas vezes mudamos o foco de nossos olhos e o colocamos no nosso passado, tentando encontrar as coisas ruins que ficaram por lá. Isso cria em nós um sentimento que nos impede de tentar fazer melhor no tempo que virá. Prendemos os nossos olhares na impossibilidade. O tempo da derrota não permanece, não perdura para sempre. Não se pode olhar para a própria vida como quem se olha no espelho. Quando se olha no espelho você se vê no centro do reflexo, e todo o resto que ali é refletido está à sua volta, mas o que mais se nota, além de você mesmo, é o que está atrás de você. O mundo visto no espelho é um mundo muito pequeno, restrito, cheio de impossibilidades. Olhar o mundo pelo espelho é olhar para si mesmo o tempo todo, e olhar para trás o tempo todo. Só é possível modificar o cenário do reflexo se sairmos da frente do espelho; ou esperar que alguém modifique a paisagem por nós, mas aí corremos o risco de esperar para sempre, fugindo à nossa responsabilidade, nos "infantilizariamos", esperando que os outros façam por nós, que os outros "se salvem em nosso lugar".

Quem nesta vida gosta de guardar retratos das tragédias passadas? Guardamos, sim, retratos dos momentos felizes, e dos ruins trazemos recordações, lições, cicatrizes. Vida cristã é isso, olhar voltado para a possibilidade, lembranças boas guardadas em fotografias, memórias passadas nos ensinando a não cometer os mesmos erros, a não tomar caminhos errados, olhos fixos no Cristo que nos ensina que o sofrimento é passagem, processo de santificação e configuração a Ele mesmo. As alegrias nos recordam que vale a pena continuar, cada dor nos prepara, nos fortalece para a próxima que virá.

Abra a janela na sua casa e olhe o mundo por ela, e então verá a diferença entre olhar a vida pelo espelho e olhá-la pela janela de casa. Veja a vida que está à sua frente. Comece olhando pela janela, depois pela porta de sua casa; você verá os caminhos que partem dali, que levam a lugares onde você nunca pisou, e isso lhe dará coragem para sair e andar por eles, pela força do desejo de tornar concreto o que é possível, tornar a possibilidade em realidade.