terça-feira, 19 de junho de 2007

Apenas palavras...

Nessa vida tantas vezes me calo e fico em silêncio. Na falta de palavras, às vezes não digo nada; outras vezes digo apenas que não sei o que dizer. É o que digo agora: "Não sei o que dizer".

Muitas vezes esse "não ter o que dizer" não chega a ser ruim. É quando não se sabe o que dizer que as palavras são mais sinceras; é quando não se sabe o que dizer que o coração não segura o choro; é quando não se sabe o que dizer que se pode dizer tudo com apenas um olhar; é quando não se sabe o que dizer que saímos de nossos esconderijos e deixamos cair nossas máscaras.

Foi sem saber o que dizer que vivi muitos de meus dias, sem muitas palavras para expressar o que penso e o que sinto. Esse meu silêncio ficou um pouco esquecido no tempo, e às vezes sinto saudades da paz que sentia, paz que perdi tentando traduzir em palavras o que lágrimas diriam com muito mais clareza.

Na ausência de palavras é o coração que fala. Foi assim que Maria Madalena lavou os pés de Jesus (1), sem saber o que dizer. Foi assim que Maria, irmã de Marta, se sentou ao lado do Mestre para escutar sua doce voz (2), sem saber o que dizer. Foi assim que Pedro chorou seu pecado (3), sem saber o que dizer.

Não ter o que dizer é também ser livre. Palavras prendem, aprisionam o coração no pequeno espaço das palavras. Não digo que falar é ruim, mas permanecer em silêncio, muitas vezes, diz mais do que qualquer palavra poderia tentar exprimir, afinal, são apenas palavras. Num olhar é muito mais fácil pedir perdão. Num olhar é muito mais fácil dizer "podes contar comigo". Num simples olhar é muito mais fácil dizer "eu te amo". Palavras dizem muito, mas são apenas palavras.


(1) Lc 7, 37-38
(2) Lc 10, 38-39
(3) Mt 26, 75