terça-feira, 27 de novembro de 2007

Liberdade

Há muito tempo Deus já me falava das coisas que deveria abandonar para segui-lo. Primeiro minhas vontades. Não me pedia para deixá-las totalmente, mas que as medisse e moderasse, de modo que não me levassem para longe Dele. Depois meu entendimento, para que deixasse de lado o desejo incontrolável que tinha de tudo entender, de tudo absorver com a razão. Por fim minha memória, para que nada do que passou me aprisionasse, e que as boas lembranças não me prendessem no desejo de tê-las comigo outra vez. Por fim, pediu que colocasse meus instintos sob o governo de minha vontade, depois de entregue a ele, de modo que pudesse viver livremente, e não escravizado pelos meus próprios impulsos. Assim me ensinou a desapegar-me daquilo que me agrada e a querer apegar-me somente a Ele.

Ainda restam muitas coisas que preciso deixar, muitas coisas que me retiram a paz quando me afasto delas. Há ainda muitos vícios que precisam cessar, muitos desejos que precisam morrer, muitas vontades que precisam ser domadas.

Em meio a tudo isso, há algumas coisas que não me levam a Deus e, no entanto, não podem ser consideradas más por isso, porque também não me afastam Dele. Essas coisas me tiravam a atenção e eu andava para frente olhando para os lados, e assim tropeçava com mais freqüência. Isso me fez querer descobrir o que aquelas coisas tinham de tão agradável, e de tão importante, a ponto de me fazerem desviar o olhar do que realmente importava. Percebi que aquelas coisas não eram tão importantes assim, e que, se não as olhasse, elas não me fariam falta; entendi, então, que precisava desejar apenas o que me fosse realmente útil, e não mais aquelas coisas que, pelo menos, me faziam perder tempo(1). Aprendi que o que não leva a Deus não merece ser desejado.


(1) “Afasta de ti esses pensamentos inúteis que, pelo menos, te fazem perder o tempo.” (S. Josemaria Escrivá)