sexta-feira, 27 de outubro de 2006

Saudades...

Como é bom sentir saudades, recordar os momentos bons da vida. É como se o tempo parasse e nos desse a oportunidade de estarmos lá mais uma vez e reviver antigas alegrias que se renovam a cada lembrança.

Alguém disse por aí que a saudade é uma forma de ficar. Eu concordo. É uma forma de manter vivo o exemplo daqueles que que já partiram desta vida, de atualizar alegrias antigas. A saudade nos faz recordar acontecimentos que nos fizeram sorrir ou chorar, mas tudo isso sem nos causar dor ou pena por tudo o que não temos mais tão perto de nós quanto gostaríamos. Saudade é reviver alegrias, não lamentar que tenham passado.

Tenho saudades do tempo em que eu rezava mais. Mas será isso saudade mesmo? Acho que não. Tenho saudades do tempo em que meu mundo fazia menos barulho e eu falava menos. Às vezes fico pensando que seria melhor que isso não tivesse passado, que seria muito bom voltar àquele silêncio, àquela calmaria.

A preparação para uma viagem é melhor do que a viagem em si. A expectativa traz alegrias, a espera faz acreditar que valerá a pena. Durante a viagem nos cansamos mais do que antes dela, mas existe a esperança de que ao final haverá descanço. A calmaria que eu experimentava antigamente era assim, uma preparação para a viagem. Era experimentar pela espera um pouco do que há no meu destino, para que as adversidades da viagem não me fizessem desistir. É essa a saudade a que me refiro. Tenho saudades do céu, saudades de Deus. Essa saudade me faz continuar sem me preocupar com as pedras em que eu tropeço tantas vezes.

Há uma música que diz: "A vida humana neste altar é muito mais, nele antecipa-se a chegada de quem nunca se ausentou, pois a saudade é uma forma de ficar" (1). É assim que Deus fica conosco, na Eucaristia. Deus, tão vivo e presente quanto está no céu, quer se encontrar conosco no Santíssimo Sacramento, para colocar em nós, a cada missa, a cada comunhão, uma grande saudade daquele a quem nossa alma tanto deseja, Ele mesmo, para nos alegrarmos com sua "promessa cheia de amor de poder comungá-lo o mais breve possível" (2).

A cada dia um pouco do Céu, a cada comunhão um pouco de Deus e Deus inteiro.


(1) Fábio de Melo, Pegadas de tua Ausência (CD Marcas do Eterno)
(2) Toca de Assis, Deus Presente (CD Jesus Sacramentado - Certeza do Céu)